A recessão acabou!
(Agora, mexam essa bunda preguiçosa e gastem um pouco, cacete!)
Daniel Patrick Welch, recupera sua inspiração depois de um desafortunado hiato, se espanta com a audácia do CCF, Coro de Cabeças Falantes, que nos diz, impassível, que será nossa culpa, se a falsa "recuperação" falhar, porque não gastamos o dinheiro que não
temos!
(9/26/09)
Essas recessões estão cada vez mais curtas. Se você espera para admitir que ela esteja acontecendo até a merda atingir o ventilador, então, alegue que tudo melhorou enquanto a merda ainda respinga em você, no fim, tudo se tornará um evento esperado que não aconteceu, como os trabalhadores sem determinação e sem graça, que continuam a tornar inexpressivas as reclamações relacionadas ao desemprego. Muito bem, rapazes! Uma boa maneira de se sacrificar pela equipe das estatísticas!
A outra evolução intrigante a respeito da "moderna" recuperação é que essa, milagrosamente, continua a ser uma "recuperação" sem um componente previamente indispensável. Nos governos Clinton e Bush, fomos apresentados à recuperação do "sem-emprego". Agora, com execuções de hipotecas ainda para acontecer, e um número recorde de situações líquidas negativas em hipotecas que ainda serão executadas, aparentemente, estamos alimentando a "recuperação dos sem-moradia". Viram? Com cada recuperação, podemos começar a ver através dessas tediosas necessidades que obscureciam nossa visão no passado. Com o desemprego e a falta de moradias se tornando antiquados, mal posso esperar pelo que está por vir, talvez a recuperação dos “sem-comida” ou dos “sem-ar” nos será concedida pelas futuras administrações.
Deixando todo o hilário sarcasmo de lado, (e eu sou engraçado, não sou? A desgraça não é engraçada?!), é uma época terrivelmente desanimadora. Não consigo lembrar o tempo no qual o trinado do Coro das Cabeças Falantes ou das Autoridades Do Poder estavam na mais completa sintonia, enquanto, ao mesmo tempo, estavam completamente inconscientes da experiência que o restante de nós vivia.
Jornalistas e líderes de torcidas tiveram suas atividades descritas de forma comum por um bom tempo; mesmo assim, ainda é surpreendente ouvir pessoas humildemente “relatar” como fato os dados vomitados automaticamente pelos porta-vozes do governo e das indústrias. O CCF e as ADP ainda trinam sobre o assim chamado "salto" de 3,6% nas moradias, quando a amostra estatística tinha margem de erro de 11%. Não é preciso um diploma em estatística para ver através desse monte de mentira. Mesmo assim, permitem que o vômito continue.
A única concessão à recessão que a turma do CCFADP fará é que a não-existente recuperação será “frágil” enquanto os consumidores não liberarem novamente os seus hábitos de gastança. Dãaa. A imensa fatia de 70% do PIB se origina dos gastos dos consumidores; simplesmente, não há economia sem que nós compremos tanta porcaria quanto pudermos tocar. Bom, as pessoas podem finalmente entender o fato de que trabalhar 80 horas por semana em um emprego que odeiam para financiarem a gloriosa casa com valor superestimado em um condomínio, com hipoteca com valor maior do que vale, para financiar o estilo de vida “nunca pare de gastar” que os mantém em um trabalho monótono... tudo isso é uma MERDA! Shhhhhh! O sistema simplesmente entrará em colapso, se as pessoas realmente descobrirem isso.
Bom, adivinhe, CCFADP? Elas já descobriram. E a onda de pânico está ficando cada vez mais forte nos dois quartéis; entre os Cabeças Falantes, cujo trabalho é convencer as pessoas a continuarem a gastar, e as pessoas, que não têm mais dinheiro para gastar. NÃO HÁ MAIS DINHEIRO para o povo gastar e, por isso, não poderá haver uma volta sustentável a “Como as Coisas Eram”.
Os que pensam que a economia não pode realmente ser tão simples esqueceram a velha piada do economista preso em uma ilha com o químico e o físico: eles tinham uma única lata de feijões e morreriam de fome, se não descobrissem como abri-la. Depois que o químico e físico examinaram soluções demoradas e improváveis de fervê-la ou jogá-la (quanto mais longa e chata, melhor é a piada, infelizmente), o economista chega calmamente e diz: "Bom, SUPONHA um abridor de latas..." Por que saberiam o que falavam se tudo aquilo era um pouco melhor do que ler folhas de chá ou o cara ou coroa? Claro, não é justo para os que tiram cara ou coroa: eles estão certos a metade das vezes...
Apenas um mundo de fantasia poderia produzir uma frase como "a economia real", como algo que tenha que ser realmente descrito. Na "economia real", as pessoas, desvairadamente, tentam, a seu modo, fazer mais com menos, se acostumando com um novo e austero futuro, no qual se espera que suas rendas cada vez menores paguem mais mercadorias e serviços, enquanto o governo as abandona em uma orgia completamente bipartidária que atira dinheiro para criminosos e para a máfia dos banqueiros, que já são obscenamente ricos, para começar.
As pessoas olham ao redor, falam umas com as outras, trabalham perto umas das outras, brigam umas com as outras, e elas sabem. Elas param de ouvir o zunido causado pelo CCF e vivem suas vidas.
E, em uma recente visita ao shopping para ver como toda essa recuperação andava, tudo fez sentido. Chovia, então, o estacionamento estava lotado, e as pessoas afluíam até a catedral local, a moderna casa de adoração, que é o shopping center de um bairro afastado. Mas, lá dentro, as pessoas estavam mais ou menos perambulando como zumbis, comprando uma coisa ou duas nas grandes lojas de departamentos ou em lojas que anunciavam no microfone liquidações,
“leve-dois-e-pague-um” e descontos de 110% (está bem, eu inventei esse aí). Mas não inventei o fato de uma loja ter um enorme adesivo laranja que alardeava que ela tinha sido CONFISCADA... Cacete, isso é um lance sóbrio de realidade que os consumidores realmente não precisavam. Ou as conversas ouvidas por acaso: "Estou cansado. Vamos procurar um lugar para sentar e ficar olhando..." Ou o fato de que havia uma fila, mas em apenas uma loja: na Dunkin Donuts! Recuperação o cacete. Pode haver esperança no fato de que as pessoas não são tão estúpidas como os que estão no poder
acham.
E observe a questão da moradia, por exemplo. Ninguém sabe o que eles falam, como as anteriormente mencionadas Mentirinhas, Grandes Mentiras e antigas e óbvias Mentironas declaram. A única medida real do "valor" de algo é o que as pessoas andam pagando recentemente, pagando de verdade, por coisas parecidas. É mais fácil do que parece ignorar o CCF e a Máfia dos Banqueiros de Bernanke, pelo menos em pequena escala. Eu estava curioso com o mercado local, por isso, comecei a analisar uma simples tendência, preços recentes de venda em função do valor estimado. Claro, os corretores de imóveis arrancarão os olhos, e todos do setor gritarão que o valor estimado não deve ser confundido com o valor de mercado. Não precisa ser. Como a única constante aplicada por uma autoridade tributária local a todas as propriedades, tudo o que precisa fazer é servir como cortina de fundo para a flutuação de preços.
Em junho, uma amostra de casas para uma ou duas famílias rendiam um preço médio de venda de aproximadamente 88,8% do valor estimado; uma situação deveras austera, já que os valores avaliados já são considerados baixos. Em julho, o tão alardeado "salto" rendeu realmente uma recuperação local, aproximadamente 92,8%, mas, embora o frenético alvoroço dos últimos dois dias do mês, a média teria realmente diminuído. A cruel novidade é, quando se tentou fazer a mesma análise para agosto, não havia quase dados para serem analisados depois de se descartar baixos e altos do balanço da estatística. Mesmo no alardeado mercado de condomínios, refúgio de compradores caprichosos, mesmo nesse mais favorável dos mercados de compradores, se registrou menos de 103%. Dos parcos lucros em vendas de casas (menos do que a metade do volume dos dois meses anteriores), a média caiu para aproximadamente 80% do valor estimado.
Uau. E essa tendência era visível, com uma pequena investigação, semanas antes da recente e "inesperada" queda nas vendas de agosto, que apenas agora é notícia. Um pequeno exemplo, reconhecidamente, mas em que mais podemos confiar quando nos culpam por não estimular a recuperação gastando o dinheiro que não
temos?
E nesta cidade universitária tradicionalmente cheia, onde a falta de moradias suficientes sempre é um problema, placas ubíquas de "Para alugar" persistem em outubro, muito tempo depois de que os estudantes que retornaram tivessem se acomodado para o novo semestre. Enquanto isso, bilhões dos nossos dólares são gastos em guerras intermináveis, outra atividade bipartidária inútil. E trilhões... Sim, trilhões... podem ser tirados da cartola para sustentar toda essa coisa.
Lembre-se disso da próxima vez que precisar fazer um bazar para financiar atividades extracurriculares na escola do seu filho. As pessoas sabem que há algo terrivelmente errado. E a única boa nova é que elas podem, finalmente, ter parado de ouvir o
CCF.
© 2009 Daniel Patrick Welch. Concedida permissão de impressão com inclusão de crédito e link para
danielpwelch.com.
Traduzido por Emilia Carneiro
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Daniel P. Welch mora e escreve em Salem, Massachusetts, EUA, com sua esposa, Julia Nambalirwa-Lugudde. Juntos, eles operam
The Greenhouse
School. Escritor, cantor, lingüista e ativista, ele apareceu na rádio [entrevista disponível aqui] e também pode estar disponível para futuras entrevistas. Artigos passados e traduções estão disponíveis em danielpwelch.com. Links ao site são bem-vindos
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