Um Grupo Coitado: Não precisa pedir desculpas Vamos a Hague!
por Julia Nambalirwa-Lugudde e Daniel Patrick Welch
(5/04)
Enquanto nós assistimos ao horror desvelando diante de nossos olhos como uma gigante transmissão atrasada, um horror mais profundo também está se instalando. Toda discussão que cerca as "revelações" dos maus tratos de iraquianos pelos EUA (bombardear fábricas de purificação de água é mau trato?) virou de maneira surreal e nauseante. Eu sinto que se estivéssemos assistindo "às coisas desmoronarem", como Chinua Achebe certa vez escreveu. O centro, de fato, não segura, e nós estamos testemunhando o encaracolado fora de controle de quase todo elemento de nossa percepção: compasso moral girando sem objetivo, fundamento intelectual desmoronando, o certo se fundindo com o errado, um tipo de Louca Festa do Chá Imperial. O de cima está em baixo, o dia é noite e guerra é paz enquanto descemos pelo buraco da
aranha.
Vamos direto ao ponto: não há nada de novo - isto é apenas mais merda no ventilador. Não esqueçamos o Elefante Gigante na Sala - o albatroz que os Bush penduraram no pescoço do povo Americano. Não se engane e lembre-se: Esta é uma guerra ilegal, e é aí que tudo começa. Não é por nada que o tribunal de Nuremburgue guardou veneno especial para o último Crime de Guerra de começar uma guerra não provocada de agressão: a Neblina da Guerra pode acobertar certas verdades, mas o pior crime é aquele que "contém o mal acumulado do
buraco".
Não sejamos inocentes: Esta Administração, mais do que Kerry (um Criminal de Guerra Menor que admitiu atrocidades, condenado a substituir aquele no cargo no próximo janeiro) está usando a oportunidade de se limpar das atrocidades que impusera ao "levar a Democracia ao Oriente
Médio".
Em jogos de guerra, ou em qualquer outra aquisição hostil em nome de interesses imperialistas, aquele considerado "o inimigo" é sempre o diabo. Desde o início da experiência Americana, lembre-se dos Nativos Americanos "selvagens" que foram massacrados e expulsos de suas terras para dar lugar ao "povo escolhido" para criarem sua Utopia.
Para poder rebelarem-se contra seus torturadores europeus, os colonos mudaram-se para um outro lugar e exterminaram uma população inteira. Outros paises europeus também são jogadores no antiqüíssimo jogo da humilhação com saques e assassinatos. E o tratamento britânico com os africanos e indianos? E os holandeses com os sul-africanos? E os americanos com os coreanos e
vietnamitas?
Há, é claro, nenhuma defesa para estas "constatações" recém-reveladas horríveis, apesar de que mal podem ser chamadas de tal, dados os fatos que levaram a esta tragédia. Esta administração trapaceou para chegar ao poder e agora está usando esta oportunidade para se livrarem do
anzol.
Porque indubitavelmente sabem do declínio moral e popular do Bush, apesar de que parece que nem nasceu com moralidade, este incidente proporciona uma maneira perfeita para aliviar a tensão que acumulou em volta dele e da
guerra.
Aqui nós vemos o Bush na menos assistida TV árabe dizendo que estas "aberrações" tinham nada a ver com os princípios dos EUA. Esta é apenas uma "mancha" na história do país. Ele não faz apologia, é claro, ao bombardeiro escolas, mosteiros, hospitais - toda a infraestrutura de um país soberano - nem à detenção em massa de inocentes enquanto lhes nega o processo de democracia que é o nosso suposto dom. A democracia é suja, nos dizem - sim, certo - especialmente para aqueles no lado sujo da
vara.
Pediram ao Bush para pedir desculpas, como se ao fazer tal, ele poderia absorver a culpa de seu povo, ser um mártir e livrá-los do pecado de olhar cegamente e apoiar esta guerra diabólica. Enquanto isso, para cimentar seu rígido compromisso com a "justiça", estão pedindo ao Rumsfeld que renuncie! Não acredito! É claro que este é mais um fenômeno da mídia do que da verdade, mas, renunciar? Sempre me espanta como aqueles com as mãos sujas nas alavancas do poder, cujas políticas matam as pessoas às centenas de milhares - podem ter um destino melhor do que aquele adolescente negro que vende um grama de droga.
E esperem aí! Depois de tudo que aprendemos desta administração, é anátema (significa que não gostam, para aqueles que assistem Seinfeld) para eles assumirem qualquer responsabilidade que seja por seu comportamento criminoso. Prestem atenção à mídia: de jeito nenhum que o Rumsfeld renunciará, nem sem amiguinho jamais pedirá. A hora deles virá: minha bola de cristal me diz que é uma previsão do bem que todos mudarão, um a um, talvez para as "instalações de detenção" que conhecem tão bem, depois que as acusações
começarem.
As revelações simplesmente mostram o quão não planejado e desorganizado o "Mapa da Democracia" do Iraque foi. Nenhuma estrada pavimentada com ouro (ou petróleo, pode escolher). Feival Mouskowitz ficaria desapontado. O giro do escândalo das fotos miraculosamente e inexplicavelmente lhes alivia de ter que explicar porque atacaram o Iraque para começar - pelo menos enquanto o "debate" evoluiu no cenário político Norte-Americano. A não ser que sejam forçados a admitir que estes soldados eram reservistas que cumpriram ordens da corrente de comando, a administração Bush está usando jovens destreinados para fazer o seu trabalho sujo. Que mais há de novo? Agora estamos vendo de seis a dez patifes que descarrilaram o mapa da estrada. Serão sacrificados em nomes dos Escolhidos. Como que uma jovem de vinte anos pode ser julgada como a única alma que "manchou" tudo o quê os EUA
representam?
Como professores primários, agora temos que repensar o exercício que planejáramos com as crianças: escrever cartas de apoio - apoio pessoal, não político a soldados que sabíamos que enviamos ao Iraque. Levou um pouco para abraçar esta atividade: como opositores ferrenhos à guerra, e já que a Julia é uma imigrante africana cujo país estava entre as dúzias saqueados pelos soldados do Império Britânico, tínhamos pouca simpatia por aqueles nas linhas de frente da conquista imperial. Quando falamos com os alunos sobre os horrores da guerra, nós os apresentamos ao lado que a maioria dos Americanos nunca vê: civis sentem a força principal da guerra. Julia ficaria nostálgica (se puder chamar assim) sobre suas experiências da guerra civil na terra natal, correndo de lugar a lugar, escondendo durante o dia e voltando para casa à noite. Ela falou da interrupção da vida cotidiana, sem acesso à comida e remédio e hospitais, água limpa - os verdadeiros matadores na guerra. Nós não pensamos em incluir a parte sobre tortura, humilhação e
estupros.
Mas um de nós é uma mulher negra nos EUA, e as peças do quebra-cabeça geopolítico necessariamente se encaixam diferentemente. Apesar de podemos abandonar a atividade de escrever cartas por enquanto, nós ainda temos que lembrar que eles são jovens, como cães treinados para acharem drogas na bolsa de alguém. São ensinados e treinados como policiais da cidade de New York que nos reuniram como gado em currais no último 15 de fevereiro, ou como guardas de prisão (alguns deles são). Nós enfurecemos de cara quando Charlie Rangell propõe o alistamento, até que percebemos que ele está lembrando que assim que a guerra chegar em casa para a maioria da população, quando são seus próprios filhos que escolhem o exército para evitar a prisão ou o WalMart, ou apenas para poder ir à faculdade, a guerra acabará no dia seguinte. Charles Ogletree destacou, sobre as conseqüências da decisão de Michigan, que uma sociedade cujo exército é negro e cujas faculdades de direito são brancas está indo direto para
problemas.
A fraude de uma sociedade Americana sem classe treme debaixo do peso da verdade, a sua fachada fragmentada pelos anúncios da Marinha prometendo aos adolescentes fugir das cidadezinhas como aquela da qual veio a Lynndie England. As taxas de suicídio estão descomunais entre os soldados no Iraque, então por que não esperar isto? Produtos doentes de um sistema doente, aqueles que fazem o trabalho sujo para o império serão enviados as prisões superlotadas para serem administradas por alguns de seus antigos colegas. Enquanto isto, os arquitetos do terror podem (apesar de que provavelmente não) perder algumas de suas pensões do governo. Como a música, "Você sabe que é engraçado que quando chove, cai toró; eles têm dinheiro para guerras, mas não alimentam os pobres." O quê precisamos perguntar é, os verdadeiros homens ficarão de pé? Eu sei que estamos de saco
cheio...
© Daniel Patrick Welch 2003. Concedido permissão para reprodução.
Traduzido por Roman
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Daniel P. Welch mora e escreve em Salem, Massachusetts, EUA, com sua esposa, Julia Nambalirwa-Lugudde. Juntos, eles operam
The Greenhouse
School. Escritor, cantor, lingüista e ativista, ele apareceu na rádio [entrevista disponível aqui] e também pode estar disponível para futuras entrevistas. Artigos passados e traduções estão disponíveis em danielpwelch.com. Links ao site são bem-vindos
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